sábado, 12 de janeiro de 2013

Reflexão Final - "Memorial do Convento"

  Bem, e cá estou para fazer mais uma breve reflexão sobre o último módulo deste ano.  
  Em relação ao Blog, embora ainda não o domine na perfeição, já foi mais fácil fazer tudo aquilo que eu pretendia, pois o básico já sei fazer. 
   Agora, a pensar em tudo aquilo que trabalhei para a realização deste módulo, posso dizer que tive que me esforçar um bocado mais, pois é um módulo em que tudo aquilo que se fala é complexo e tem muita história.         Ainda não li o livro, mas daquilo que já sei sobre esta obra acho que é bastante interessante e vou ler concerteza, não só porque me vai fazer falta para estudar para o exame nacional, mas também porque achei que deve de ser bastante interessante. 
  Obrigado a quem seguiu o meu Blog, e espero que tenha ajudado em alguma coisa, beijos :)



Linguagem e Estilo de José Saramago - "Memorial do Convento"

  A escrita de José Saramago é marcada por um estilo e uma linguagem peculiares, que o diferenciam no panorama literário português. 
  Crítico de tempos passados e presentes, procura subverter conceitos tradicionalmente aceites na sociedade, servindo-se para isso de uma escrita igualmente subversiva. 
  A pontuação utilizada por José Saramago confere à escrita uma especificidade que desafia a gramática académica, dificultando assim a leitura. 
  Por outro lado, a visão "brechtiana" do autor é evidente na crítica social que proporciona nas suas obras, através da utilização de figuras de estilo como a metáfora, a enumeração, a ironia e o sarcasmo. Estas servem, sobretudo para satirizar a sociedade e os seus aspectos mais marcantes. 


Simbologia "Memorial do Convento"

Passarola

  • é o símbolo da concretização do sonho, representando assim também a libertação do espírito e a passagem a outro estado de consciência, sendo também a passarola um símbolo da ligação do Céu e da Terra, pois tenta sair do domínio dos homens e entra no domínio de Deus. 
Sol
  • é o símbolo que ao mesmo tempo que representa a força representa também a própria vida, faz corresponder sete-sóis a sete-vidas, transforma deste modo a personagem Baltasar como o representante de todo o povo. 
Lua
  • é um símbolo normalmente associado ao princípio passivo do sol, pois não tem luz própria. 
No entanto nesta obra a luz dá a Blimunda capacidades sobrenaturais que dependem das fases da lua, o que faz que a lua seja tão relevante como o sol, ou seja, o sol e a lua simbolizam a união de um todo, porque ao mesmo tempo que são o verso, são também o reverso da mesma realidade, o dia.

Sete  
  • simboliza a totalidade perfeita.
Nove
  • simboliza o coroamento dos esforços, o concluir de uma criação, utilizado para simbolizar os nove anos de procura de Blimunda por Baltasar.  
Vontade
  • simboliza que, aliadas com a ciência e a arte, o querer do homem faz avançar o mundo.
Trindade Terrena
  • simboliza a harmonia perfeita.
Mãe de Pedra
  • o transporte desta grande pedra de mármore de Pêro Pinheiro a Mafra é uma epopeia, uma vez que a acção é descrita com "grandeza" clássica e é vista como um acto heróico dos operários. 

 

Visão Crítica - "Memorial do Convento"


A perspectiva do narrador em Memorial do Convento apresenta uma visão crítica da sociedade portuguesa da primeira metade do século XVIII. Com isto verificamos que a obra transpõe a classificação de romance histórico, pois não se trata apenas de uma reconstituição de um acontecimento histórico, é antes um testemunho intemporal e universal do sofrimento de um povo sujeito à tirania da corte e sociedade da altura. 


O Narrador em "Memorial do Convento"

  O Narrador de Memorial do Convento é quanto à Ciência omnisciente, ou seja, conhece toda a história, podendo, assim manipulá-la, referindo-se a momentos anteriores (analepses) e posteriores (prolepses). 
  Por ser omnisciente o narrador assume-se também como comentador e crítico (através das ironias e dos sarcasmos) dos momentos e acontecimentos que vão sendo narrados. 

Tempo em Memorial do Convento

  O tempo histórico corresponde a alguns anos do Reinado de D. João V, designadamente no que se refere à sua promessa de emergir um Convento de Franciscanos "em troca" de um descendente. 
  Quanto ao tempo histórico da narrativa existem informações explícitas ou indirectas a vários momentos, que se resumem a 28 anos. 


  • 1711 é a primeira referência temporal, quando se lê a propósito d'el-Rei D. João V "um homem que ainda não fez vinte e dois anos" (el-rei nasceu em 1689);
  • 17 de Novembro de 1717 marca o início das obras em Mafra, com a colaboração e benção da primeira pedra;
  • 8 de Junho de 1719 é a data indicada para a procissão do corpo de Deus;
  • 1727 é o ano implicado na sequência frásica "dezasseis anos passaram desde que vimos pela primeira vez" - sobre Blimunda;
  • 22 de Outubro de 1730, data indicada por D. João V para a sagração da Basílica, momento da Celebração dos seus 41 anos de idade;
  • 1739 é a última data implicada na obra por meio da frase que inicia o último capítulo de Memorial do Convento, "Durante nove anos, Blimunda procurou Baltasar" momento que se seguiu do desaparecimento misterioso deste homem. 

Espaço em "Memorial do Convento"

Espaço Físico

  • Os espaços privilegiados são Lisboa e Mafra, locais que correspondem à construção dos dois projectos impulsionadores da acção e de observação privilegiada dos auto-de-fé.  

Espaço Social 
  • Corresponde à recriação de ambientes da época, neste caso o Portugal do século XVIII, marcado pelo ilusionismo trazido pelos estrangeirados e ao mesmo tempo pelo obscurantismo da população e o medo do poder da Inquisição. 
Espaço Psicológico
  • Diz respeito as reflexões, meditações, visões, sonhos e a demais pensamentos das personagens, tais como as momentos da reflexão e angustia de Blimunda. 




Caracterização das Personagens - "Memorial do Convento"


  • D. João V

Rei de Portugal de 1706 a 1750, desempenha o papel de monarca de setecentos que quer deixar como marca do seu reinado uma obra grandiosa e magnificente - o Convento de Mafra. Este é construído sob o pretexto de que cumpre uma promessa feita ao clero, classe que "santifica" e justifica o seu poder.
É símbolo do monarca absoluto, vaidoso, megalómano, egocêntrico, e mantém com a rainha apenas uma relação de "cumprimento do dever" e, em alguns momentos, pretende ser um déspota esclarecido, à semelhança dos monarcas europeus da sua época (favorece, durante algum tempo, o projecto do padre Bartolomeu de Gusmão e contrata Domenico Scarlatti para ensinar música a sua filha, a infanta Maria Bárbara). Dado aos prazeres da carne e a destemperos vários (teve muitos bastardos e a sua amante favorita era a Madre Pauta do Convento de Odivelas). Sacrificou todos os homens válidos e a riqueza do país na construção do convento.
  • Maria Ana Josefa

De origem austríaca, a rainha, surge como uma pobre mulher cuja única missão é dar herdeiros ao rei para glória do reino e alegria de todos. É símbolo do papel da mulher da época: submissa, simples procriadora, objecto da vontade masculina.
  • Baltasar Sete-Sóis

Baltasar Mateus, de alcunha Sete-Sóis, deixa o exército depois de ter ficado maneta em combate contra os espanhóis, conhece Blimunda em Lisboa, e com ela partilha a vida e os sonhos. De ex-soldado passa a açougueiro em Lisboa e, posteriormente, integra a legião de operários das obras do convento. A sua tarefa máxima vai ser a construção da passarola, idealizada pelo padre Bartolomeu de Gusmão, passando a ser o garante da continuidade do projecto, quando o padre Bartolomeu desaparece em Espanha.
Baltasar acaba por se constituir como a personagem principal do romance, sendo quase "divinizado" pela construção da passarola: "maneta é Deus, e fez o universo. (...) Se Deus é maneta e fez o universo, este homem sem mão pode atar a vela e o arame que hão-de voar. " - diz o padre Bartolomeu a propósito do seu companheiro de sonhos. Após a morte do padre, Baltasar ocupa-se da passarola e, um dia, num descuido, desaparece com ela nos céus. Só é reencontrado, nove anos depois, em Lisboa, a ser queimado no último auto-de-fé realizado em Portugal.
O simbolismo desta personagem é evidente, a começar pelo seu nome: sete é um número mágico, aponta para uma totalidade (sete dias da criação do mundo, sete dias da semana, sete cores do arco-íris, sete pecados mortais, sete virtudes); o Sol é o símbolo da vida, da força, do poder do conhecimento, daí que a morte de Baltasar no fogo da Inquisição signifique, também, o regresso às trevas, a negação do progresso. Baltasar transcende, então, a imagem do povo oprimido e espezinhado, sendo o seu percurso marcado por uma aura de magia, presente na relação amorosa com Blimunda, na afinidade de "saberes" com o padre Bartolomeu e no trabalho de construção da passarola.
Baltasar é uma das personagens mais bem conseguidas de todo o romance porque descrever a ambição de um rei, as intrigas duns frades e a loucura de um cientista é relativamente fácil, mas escolher uma personagem do povo, maneta e vagabunda, que aparentemente não tem muito para dizer e convertê-la no fio condutor da narrativa e no protagonista duma das mais belas e sentidas histórias de amor, é algo que só conseguem autores como Cervantes, que de um criado como Sancho Pança criou um arquétipo e um digno "antagonista" de Dom Quixote.
Baltasar é um homem simples, elementar, fiel, terno e maneta, que confina a capacidade de surpresa com a resignação típica das pessoas humildes de coração e de condição. Aceita a vida que lhe foi dado viver e a mulher que o destino lhe ofereceu, sem assombro nem protestos; acata as suas circunstâncias e não tem medo nem do trabalho nem da morte. Não é um herói nem um anti-herói, é simplesmente um homem.
  • Blimunda de Jesus

Blimunda de Jesus é "baptizada" de Sete-Luas pelo padre Bartolomeu de Gusmão ("Tu és Sete-Sóis porque vês às claras, (...) Blimunda, que até aí só se chamava, como sua mãe, de Jesus, ficou sendo Sete-Luas, e bem baptizada estava, que o baptismo foi de padre, não alcunha de qualquer um").
Conhece Baltasar quando assiste à partida de sua mãe, acusada de feitiçaria, para o degredo. Logo os dois se apaixonam, e este amor puro e verdadeiro foge às convenções, subvertendo a moral tradicional e entrando no domínio do maravilhoso - primeira noite de amor.
Blimunda tem um dom: vê o interior das pessoas quando está em jejum, herdou da mãe um "outro saber" e integra-se no projecto da passarola, porque, para o engenho voar, era preciso "prender" vontades, coisa que só Blimunda, com o seu poder mágico, era capaz de fazer. Blimunda é, simultaneamente, uma personagem que releva o domínio do maravilhoso, pelo dom que tem de ver "o interior" das pessoas (poder que nunca exerce sobre Baltasar: "Nunca te olharei por dentro"), porque amar alguém é aceitá-lo sem reservas. Blimunda encerra uma dimensão trágica na vivência da morte de Baltasar.
Simbolicamente, o nome da personagem acaba por funcionar como uma espécie de reverso do de Baltasar. Para além da presença do sete, Sol e Lua completam-se: são a luz e a sombra que compõem o dia - Baltasar e Blimunda são, pelo amor que os une, um só. A relação entre os dois é também subversiva, porque não existe casamento oficial e porque os dois têm os mesmos direitos, facto inverosímil em pleno século XVIII.
Como outras personagens femininas de Saramago, também Blimunda tem uma grande firmeza interior, uma forma de oferecer-se em silêncio e de aceitar a vida e os seus desígnios sem orgulho nem submissão, com a naturalidade de quem sabe onde está e para quê.
  • Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão

O padre Bartolomeu, personagem real da História, forma com Baltasar e Blimunda o núcleo mágico e trágico do romance. Vive com uma obsessão, construir a máquina de voar, o que o leva a encetar uma investigação científica na Holanda. Como cientista ignora os fanatismos religiosos da época e questiona todos os principias dogmáticos da Igreja. O seu sonho de voar e as suas inabaláveis certezas científicas revelam orgulho, "ambição de elevar-se um dia no ar, onde até agora só subiram Cristo, a Virgem e alguns santos eleitos" e tornam-no persona non grata para a Inquisição que o acusa de bruxaria, obrigando-o a fugir para Espanha e a deixar o seu sonho/projecto nas mãos de Baltasar.
A sua obsessão de voar domina-o de tal forma, que ele não se inibe de integrar no seu projecto um casal não abençoado pela Igreja e de aceitar e usufruir das capacidades heréticas de Blimunda, que farão a passarola voar. A passarola, símbolo da concretização do sonho de um visionário, funciona de uma forma antagónica ao longo da narrativa: é ela que une Baltasar, Blimunda e o padre Bartolomeu, mas também é ela que vai acabar por separá-los.
  • Domenico Scarlatti

Artista estrangeiro contratado por D. João V para iniciar a infanta Maria Bárbara na arte musical. O poder curativo da sua música liberta Blimunda da sua estranha doença, permitindo-lhe cumprir a sua tarefa ("Durante uma semana (...) o músico foi tocar duas, três horas, até que Blimunda teve forças para levantar-se, sentava-se ao pé do Cravo, pálida ainda, rodeada de música como se mergulhasse num profundo mar, (...) Depois, a saúde voltou depressa").
Scarlatti é cúmplice silencioso do projecto da passarola ("Saiu o músico a visitar o convento e viu Blimunda, disfarçou um, o outro disfarçou, que em Mafra não haveria morador que não estranhasse, e (...) fizesse logo seus juízos muito duvidosos”).
É, ainda, Scarlatti que dá a notícia a Baltasar e Blimunda da morte do padre Bartolomeu. A música do cravo de Scarlatti simboliza o ultrapassar, por parte do homem, de uma materialidade excessiva, e o atingir da plenitude da vida.
Bartolomeu de Gusmão, esse, aliado em diálogo excepcional com o músico Scarlatti, o único que pode de raiz compreender as suas congeminações aladas, representa a possibilidade de articulação entre a cultura e o humano, entre o saber e o sonho, entre o conhecimento e o desejo (...) São os caminhos da ficção os que mais justificadamente conduzem ao encontro da verdade.

A acção em "Memorial do Convento"

- Construção do Convento de Mafra

O decorrer da construção do Convento ocupa grande parte da acção da obra, tem a ver com a narração de quatro grandes factos: 

  • A escolha do local por parte d'el-Rei D. João V (Mafra);
  • O lançamento da primeira pedra (em 1717, com direito a visita real e procissão solene);
  • A construção do monumento (onde subressai o recrutamento forçado, em duas fases, os trabalhadores do povo, o sofrimento do povo, o trabalho árduo e até a morte de alguns); 
  • A sagração da Basílica, em 22 de Outubro de 1730.

- Construção da Passarola

Esta narrativa é considerada encaixada, pois é paralela à narrativa que diz respeito à construção do Convento. 
  • A passarola é desenhada e arquitectada pelo Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão e também com a ajuda de Baltasar e Blimunda. 
  • O primeiro voo da passarola iria sobrevoar Lisboa e Mafra, vindo a cair no Monte do Junto, momento em que o Padre Bartolomeu desaparece e viria a morrer, anos mais tarde.
- Retrato da Relação Amorosa entre Baltasar e Blimunda

É considerada uma narrativa encaixada e trata de uma relação amorosa "livre", dando que  depois de se conhecerem no auto-de-fé, passaram a viver juntos, sem a benção sacerdotal.
  • A narração desta relação inclui referências às relações sexuais naturais que resultam do amor entre ambos, que não tinha nada de obsceno e pecaminoso, uma vez que o amor dos dois era verdadeiro.
  • Baltasar desaparece misteriosamente, embora nove anos depois Blimunda o venha a encontrar a arder numa fogueira. 



A Inquisição em Portugal



  A Inquisição ou Tribunal do Santo Ofício, surgiu na Idade Média, foi criada pelo papa Gregório IX, no século XIII, como "instituição permanente e universal", confiada a religiosos na dependência da Santa Sé. 
  Foi criada para combater heresias que colocavam em causa a eclesiástico como do poder. 
  Este tribunal, instalou-se na Espanha, Alemanha e França, sendo confiado aos dominicanos e aos franciscanos. 
  Os suspeitos eram interrogados para assim se conseguir a prova da culpa, ou também através de testemunhas, sempre mantendo a identidade das mesmas em segredos, ou também através de confissão dos próprios, que poderia ser conseguida através de tortura. 
  A sentença era dada numa sessão formal publica, a qual se deu o nome de auto de fé. 
  As sentenças podiam ser a morte ou a prisão, penitências ou também a apreensão de bens próprios. 
  Na Península Ibérica a inquisição foi mais longe e os cristãos-novos, os judeus e também os protestantes. 
  A inquisição foi introduzida em Portugal no Reinado de D. João III, em 1536, depois da hesitação da Santa Sé, já D. Manuel I, em 1551, tinha pedido a instalação, mas só no Reinado de D. João III e depois de muitas negociações e autorizada a instalação da Inquisição em Portugal, que tal e qual como em Espanha fica sob a alçada do Rei. 
  O inquisidor Geral era nomeado pelo papa sobre proposta do Rei. O inquisidor-Geral nomeava também os outros inquisidores. 
  Haviam tribunais em Lisboa, Coimbra e Évora.